Equívocos comuns sobre Bitcoin - Um Guia para Jornalistas [tradução]Embora o problema agora seja consideravelmente menor do que foi a um ano atrás, uma quantidade significante de desinformados sobre o Bitcoin continuam a aparecer ao redor da internet. Parte do problema é o conceito de que o Bitcoin não é nada parecido com qualquer coisa vista antes; moedas decentralizadas que não tem presença offline não eram exatamente algo do senso comum antes do Bitcoin aparecer. Bitcoin é tambem incomum pois é um assunto meio high-tech mas com consequências fora do mundo da tecnologia, levando jornalistas sem preparo a falar coisas absurdas como associar o Bitcoin a universidade de tecnologia MIT nos EUA só por causa da licença de uso. Na verdade a "MIT license" usada pelo bitcoin não fala nada mais do que, qualquer pessoa tem o direito de usar livremente, modificar e distribuir o software e isso tem tanto a ver com o MIT quanto os "Algorismos indo-arábicos" tem a ver com a Al Qaeda, os governos da Siria e o Iran.
Outra questão é que é desejável escrever uma história interessante; uma história sobre um empresário de terno e gravata usando Bitcoin de forma rápida e barata para movimentar dinheiro através de fronteiras internacionais é muito menos provável para gerar visitas ao seu site do que um "site subterrâneo onde você pode comprar qualquer droga e arma imaginável". Assim, a tendência natural existe em favor desta última sobre a primeira.
Grandes players da midia falam que os Bitcoins se espalharam como memes e isso só serve pra agravar o problema. Por exemplo, depois que o
Financial Post alegou em 8 de junho que "Europeus estão movendo seu dinheiro para fora dos bancos e comprando tudo em Bitcoins", isso gerou uma onda de artigos seguintes sobre o mesmo assunto. Em junho de 2011, a
Business Insider, postou um artigo baseado no artigo do
Financial Post alegando que a mesma coisa, e a
Betabeat e varios outros sites seguiram sua opinião.
Um desses sites por sua vez catapultou a história para o
Slashdot, a
ZDNet e a
Daily Finance fizeram seus artigos em seguida. Na verdade, entretanto, a história de investidores indo de
Euro pra Bitcoins em massa foi groceiramente exagerada -
Amir Taaki reportou que "a única coisa que aconteceu é que euro cresceu no preço em relação ao dolar, ligeiramente"
Mesmo em caso de histórias que são essencialmente verdadeiras, o efeito de distorção ainda pode se manifestar; quando o
Bitcoin Central anunciou que firmou parceria com uma instituição financeira na França, a afirmação errônea foi que o
Bitcoin Central tinha sido licenciado como um provedor de serviços de pagamento ao invés de simplesmente firmar parceria com uma instituição existente foi tão rapidamente copiada na internet que o
Bitcoin Central teve que soltar uma nota esclarecendo os fatos.
Os topicos seguintes são esclarecimentos sobre os maiores erros que foram noticiados dentro de um ano e meio:
1. Bitcoin não tem uma central ou uma organização ou uma autoridade por trás; Esse recurso do Bitcoin é o menos entendido pelas pessoas que são novas para a moeda, e talvez a mais difícil de entrar na cabeça das pessoas. Um recente artigo da Occupy Corporatism tropeçou nesse erro consideravelmente, fazendo afirmações como "Bitcoin ganhou o status de um prestador de serviços de pagamento e agora o Bitcoin tem um número de identificação bancária internacional". Embora a comunidade Bitcoin inclua organizações como Bitcoin Foundation e Bitcoin Central, nenhum destes são autoridades centrais com poder sobre o Bitcoin como um todo. Bitcoin Central é apenas um mercado de bitcoin dentre centenas de outros e nem é o maior deles.A Fundação Bitcoin é simplesmente uma organização composta de membros altamente respeitados na comunidade Bitcoin e desenvolvedores de partes importantes do software cliente do Bitcoin. Qualquer um poderia criar sua própria exchange e sua própria fundação e tomar esses títulos. Em vez de pensar Bitcoin como um produto lançado por uma empresa tradicional, é mais apropriado pensar nisso como uma mercadoria auto-sustentável digital, semelhante ao ouro. Tem uma indústria extensa e saudável que fornece produtos e serviços baseados em torno dele, e ele tem o seu próprio negócio e organizações que o defendem, mas não há uma "Gold Corporation Central". As bases de dados que mostram endereços Bitcoin com um saldo de bitcoins são todos coletivamente geridos pela rede, usando uma rede peer-to-peer, de forma semelhante às redes usadas por serviços de compartilhamento de arquivos.
2. O preço do Bitcoin NÃO, repito, NÃO caiu para US$0,01 em junho de 2011. A história por trás desse mito é um evento em junho de 2011 quando um administrador de contas do MtGox, um dos mercados de compra e venda de bitcoin, que tem quase 80% do market share [volume de compras e vendas da rede], foi hackeado, e o atacante manipulou o banco de dados do MtGox criando um balanço de 20 milhões de bitcoins na sua conta e imediatamente vendeu tudo 'à preço de mercado' e consumiu todas as ordens de venda do MtGox dos meses anteriores, indo de 17,50 a $0,01. Entretando, o que aconteceu foi que o preço de $0,01 não era o preço do Bitcoin mas sim o preço representado no MtGox. Um preço é, por definição, um valor em um mercado para algo que está sendo comprado e vendido em um determinado momento. Neste caso, entretanto, MtGox "voltou" (fez um 'rollback' ) em todas as transações que foram executadas durante esse evento, então nenhuma compra ou venda foi feita a menos que $10. Os gráficos de preço do MtGox não mostram essas transações falsas (que foram estornadas) ocorridas neste dia. Além do atacante, nenhum ser humano esteve, em nenhum momento, disposto a vender bitcoins em algo próximo a US$ 0,01 - os pedidos que foram processados foram todos feitos semanas e meses antes do evento e em todas as outras bolsas, exceto a MtGox, o preço permaneceu estável entre $13 e $18. E, mais importante de tudo, os 2 milhões que foram vendidos não eram mesmo bitcoins 'reais' - eram simplesmente entradas fraudulentas no banco de dados do MtGox. Embora seja compreensível que alguns podem interpretar o evento como o preço caindo para $0,01, apontar para este incidente como um sinal de instabilidade no preço do Bitcoin é hipocrisia - a causa foi um acidente de segurança de um serviço de terceiros, e não uma perda repentina da confiança na moeda. Aliás, se o hack do MtGox conta como o preço Bitcoin caindo para $0,01 centavos, devemos contar a história menos conhecida com o preço do Bitcoin chegando a US$ 1 bilhão.
3. Bitcoin em si nunca foi falsificado ou hackeado. Uma série de artigos nesse último um ano e meio saíram com alegações triunfantes proclamando "Bitcoin hackeado", ou algo similar, na manchete, e recentemente um artigo do Washington Post afirmou que, no futuro, haveria contrabando de "falsas moedas digitais". Infelizmente, a reputação da segurança do Bitcoin foi afetada negativamente como resultado. Na realidade, porém, histórias sobre Bitcoin ser hackeado são simplesmente instâncias do equívoco de se achar que existe uma autoridade central manifestando-se mais uma vez. O protocolo Bitcoin em si e os vários serviços que foram acumulados pela economia Bitcoin são duas coisas completamente diferentes; dizer que o bitcoin foi hackeado quando a vítima real foi um dos serviços é como dizer que o dólar dos EUA foi hackeado quando os criminosos conseguiram roubar $ 10 milhões por estourar caixas eletrônicos. Aliás, o dólar dos EUA em si foi "hackeado", uma grande parte da receita da Coréia do Norte provêm de notas de 100 falsificadas, o protocolo Bitcoin, por outro lado, não teve quaisquer falhas de segurança significativas. Houve alguns incidentes menores envolvendo métodos de se trabalhar com Bitcoin que são conhecidamente inseguros, mas o alcance destes ataques são muito limitados, e os usuários e as empresas não estão e nem estiveram vulneráveis. Por causa do algoritmo do Bitcoin permitir somente 21 milhões de 'moedas' na economia, 'falsificar' novos Bitcoins é impossível. As bases criptográficas e as algoritmos por trás do Bitcoin provaram ser sólidos como uma rocha e o fato de ninguém ter conseguido quebrar o protocolo e ganhar a 'recompensa' de um economia de $140 milhões de dólares atesta claramente isso. Para o usuário final as unicas duas formas de perder seus bitcoins é por meio de atividade maliciosa: confiando seus bitcoins para pessoas ou serviços de terceiros inseguros ou fraudulentos, ou ter seu computador hackeado por um vírus de computador - ambos os problemas existem no sistema financeiro atual custando para a economia americana 50 bilhões de dólares por ano.
4. Bitcoin (ainda) NÃO teve um aumento de uso massivo para fugir das sanções no Irã. Da mesma forma que a história do euro acima, este é outro meme que se espalhou pela internet toda muito rápido. Depois que a Business Week escreveu um artigo em novembro(29), Reason, Infowars, vários blogs de economia e por final a CNN deram força a história, simplesmente uma copiando parágrafos da outra sem fazer uma pesquisa ou certificar a veracidade da informação. Na realidade, a história do Irã tem sim um pingo de verdade, como existem sinais de aumento de atividade no Irã nos meses anteriores, mas em grande escala o Bitcoin está longe de causar algum impacto – no Google Trends, Bitcoin nem aparece nos gráficos do Iran. O que aconteceu aqui foi uma grande falácia jornalistica: a midia pegou uma história de um iraniano vendendo músicas por Bitcoins no CoinDL e erradamente extrapolou a história sobre iranianos trocando Bitcoin em massa. Não existe nada de errado em falar dos potenciais usos do bitcoin para evitar sanções em larga escala, mas é preciso ser cuidadoso para averiguar se é o que está realmente acontecendo.
5. Bitcoin ESTÁ sendo usado para vender drogas em sites como Silk Road. Entretanto, bens e serviços ilegais, incluindo assassinos, pedofilia ou mesmo armas NÃO estão ganhando força significativa. O site de mercado negro Silk Road foi manchete a alguns meses atrás quando um artigo de Nicolas Cristin foi publicado, alegando que o site teve um volume mensal acima de $2 milhões. Focar no aspecto 'mercado negro' do Bitcoin é um hábito popular entre jornalistas, como mostra o senador americano Charles Schumer em junho de 2011 quando ele acusou o bitcoin de 'um esquema online de lavagem de dinheiro usado para ocultar a origem do dinheiro' na compra e venda de drogas. Mesmo hoje em dia artigos usam as palavras de Schumer como parte da introdução aos seus artigos sobre Bitcoin. Outros artigos, entretando, vão ainda mais longe; Um blog afirmou que "o fato de voce poder comprar drogas, armas e contratar assassinos com Bitcoin é incontestável" e outro vídeo mostra o Bitcoin como moeda para contratar prostitutas, armas, obras de arte roubadas e mais. Essas alegações são exageradas. O vídeo aifrma que "por um ponto Silk Road facilitou(?) o caminho para venda de produtos nocivos para os outros como armas, números de cartão de crédito roubados e coisa piores" - de fato, com o passar do tempo, as coisas mudaram para melhor. Números de cartão de crédito, pornografia infantil e assassinatos nunca foram permitidos no Silk Road e até mesmo no mais liberal dos mercados Black Market Reloaded começou a lentamento e reprimir atividades imorais - assassinos, pornografia infantil não podem ser mais achadas no site. Após polêmica crescente entre os usuários do site, o idealizador do Silk Road Dread Pirate Roberts, baniu armas no Silk Road no começo de 2012, movendo armas e afins para sites dedicados a isso. Entretanto, o site perdeu força e Roberts fechou a divisão de armas seis meses depois devido a inatividade. Armas não foram mais aceitas no Silk Road. A ameaça de assassinos é igualmente exagerada. Se você for a rede Tor procurar assassinatos, realmente existem alguns vendendo seus serviços por 5 a 20 mil dólares, normalmente pedindo Bitcoin como pagamento. No entanto, olhando mais a fundo ,essas contas de supostos assassinos não tem reputação nenhuma nos sites ou comentários e recomendações e eles nunca aceitam usar um serviço de custódia. Isso só pode apontar para uma conclusão: todos eles são scams/falsos. Não custa nada colocar um anúncio nesses sites e scammers podem simplesmente esperar até um cliente contata-los, e depois extrair o pagamento adiantado, tanto quanto puderem. Alguns desses golpes pode até ser vigilantes e policiais, deliberadamente minar qualquer confiança nos mercados negros para esses serviços em uma tentativa de proteger as vítimas potenciais.
É fácil entender por que tantos escritores têm cometido esse tipo de erros. É fácil cair na tentação de uma história interessante que vai gerar pageviews/acessos, especialmente quando muitas vezes há tão pouco incentivo para vasculhar uma verdade mais desinteressante. Para combater esses mitos, portanto, todos nós devemos ser vigilantes. Se uma determinada história é injustamente tendenciosa contra o Bitcoin, ou mesmo tendenciosa injustamente em seu favor, é importante trabalhar juntos para ter certeza de que a verdade sempre prevaleça - no primeiro caso, para não assustar desnecessariamente adeptos potenciais do Bitcoin, e em segundo caso, não decepcionar. Esperemos que, como a compreensão do público sobre o que é Bitcoin continua a aumentar, nós estaremos vendo muito menos alegações falsas, em 2013, e, com sorte, o Bitcoin estará livre para subir ou cair -
espero que suba - pelos seus próprios méritos.
Fonte: http://bitcoinmagazine.com/common-misconceptions-about-bitcoin-a-guide-for-journalists/Daniel BTC - 25/01/13 - 02:33 PM
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Isso aí pessoal, demorou um bocado pra traduzir esse texto mas acho que ficou razoável. Que os jornalistas falantes de lingua portuguesa cheguem a esse artigo e leiam.
PS: Por favor, aceito sugestões e correções!!! =)