Primeiramente, entendo a obsoleta utilidade que serviços dessa natureza tiveram algum dia. Não ouso desentender.
Entendo também que algumas áreas podem se mostrar inescapavelmente centralizadas, seja devido ao seu tempo de vida ou tipo de negócio.
Mas de qualquer forma, a centralização não está caminhando para se tornar o éter de nosso tempo?
Bom, o éter etílico foi descoberto no século 16, foi amplamente usado como um anestésico local no século 19 e posteriormente percebeu-se que sua inalação provocava um efeito anestésico mais profundo que permitia cirurgias mais invasivas. Estávamos diante dos primeiros passos da medicina calminha e sem dores que conhecemos hoje.
Wikipédia (se não gosta do Wikipédia, use as fontes do Wikipédia)Seria tudo muito legal se o Éter Etílico não fosse volátil e altamente inflamável.
"O éter etílico na presença de oxigênio formará peróxidos que podem explodir à temperatura em torno de 100 ºC . Por não ser condutivo pode gerar cargas estáticas que podem resultar em sua ignição ou explosão de seus vapores." Pois é.
Ficha de Informação de SegurançaOu seja, além do alto risco de explosão, a coisa ainda parecia ter vontade própria.
O éter FOI o melhor anestésico disponível. As alternativas existentes tornavam a sua não utilização uma monstruosidade descabida, uma crueldade desumana para com o paciente e um sofrimento desnecessário.
(Estou conscientemente sendo alarmista e ignorando outros contextos que não-intrínsecos ao completo conforto e segurança do paciente - conforto e segurança não são direitos - direitos não existem)Claramente a centralização dos serviços não passaram por tal impasse. Honestamente, eu não sei como a coisa toda começou a converter para tal escopo. Também não consigo imaginar como a galera que usava éter lidou com a coisa quando se deram conta que a bagaça é absurdamente perigosa. Imagino que tenha sido algo como:
- "O senhor se importa se usarmos éter durante o procedimento?"
- "Hmm, não sei. Para que serve?"
- "É para a dor."
- "Alguma contraindicação, doutor?"
- "A sua garganta vai ficar ardendo."
- "Parece bom!"
- "Isso se sobrevivermos à explosão iminente."
E devem ter acabado rindo. Afinal, era um risco 'necessário'. De fato, não importa. O que importa é que o avanço trouxe alternativas que expunham pacientes e funcionários a menos riscos.
O mais legal é que dá pra traçar um paralelo entre a temporal necessidade derivada da utilização do éter e as temporais necessidades da centralização. Podemos substituir os "riscos de uma explosão iminente para driblar uma dor implacável (éter)" pelos "riscos de terceirizar a própria segurança e abrir mão de informações pessoais para utilizar determinada plataforma, serviço ou produto (serviços centralizados)".
No fim das contas, expor usuários aos riscos de uma proposta centralizada me parece ser tão imoral quanto expor pacientes aos riscos derivados da utilização de um químico perigoso pra $#&%.