Quarta, 22 de Outubro de 2014, 12h07Utilizado na compra de bens, serviços ou força de trabalho, o dinheiro vem sofrendo mudanças significativas ao longo dos anos. Desde o escambo, que era a troca de mercadorias praticada nos primórdios da humanidade, passando pelo ouro, prata e cobre, até o cartão de crédito, a moeda parece ter finalmente atingido seu limiar: a criptografia.
Em 2008, Satoshi Nakamoto, um japonês naturalizado norte-americano, publicou um artigo científico descrevendo o protocolo bitcoin, que se baseava na geração e transferência de dinheiro através de um código-fonte aberto de criptografia, totalmente independente de qualquer autoridade central.
Vale destacar que o número total de bitcoins foi absoluta e incondicionalmente limitado a exatamente 21 milhões de unidades. Depois de emitida esta quantidade de moedas, o próprio software se encarregará de impedir a emissão de qualquer unidade adicional. Tal processo de criação é conhecido como 'mineração'. Atualmente, 13.404.125 bitcoins estão em circulação, o que representa, aproximadamente 130 bilhões de reais.
A nova tendência tem ganhado espaço em todo o mundo, inclusive no Brasil, onde o mercado já começa a se adaptar. Atualmente, no estado do Rio de Janeiro, nove pontos, em quatro municípios, como Duque de Caxias (1), Búzios (1), Angra dos Reis (1) e Rio de Janeiro (6), já aceitam a moeda digital como pagamento de produtos e serviços. Hoje, em espaços físicos, é possível comprar suplementos na Baixada Fluminense, trocar por dinheiro real na Região dos Lagos, alugar um apartamento por temporada em Ipanema e Copacabana ou até mesmo pagar uma consulta médica em Botafogo.
A praticidade é a palavra-chave da moeda virtual. De acordo com o advogado Ivan Liborio, um dos utilizadores da criptomoeda no estado, o Bitcoin age como uma espécie de facilitador, tanto para o fornecedor do serviço, quanto para o cliente. “A ideia veio logo com a chegada da moeda no país. Tenho muitos clientes estrangeiros e para facilitar a vida deles na hora de realizar o pagamento, resolvi aderir à nova tendência. Comecei a usá-la para saber como funcionava, e para minha surpresa, não senti dificuldades. É algo muito prático e que tende a crescer ainda mais com o tempo”, disse Ivan, ressaltando que a segurança ainda é motivo de desconfiança para seus clientes.
“Ainda não tive nenhum cliente que preferisse pagar com bitcoins, mas se aparecer, já estou preparado. Aos poucos, o valor da moeda, que ainda varia muito, se estabiliza e as pessoas passam a confiar no sistema. Muitos têm medo de serem roubados, mas com o tempo isso muda”, analisou o advogado.
Atualmente, o valor da moeda virtual está em torno de R$ 980,00, tendo atingido a máxima de R$ 1028,00 no começo do mês. No entanto, entre novembro de 2013 e janeiro deste ano, o país registrou seu 'boom', quando o bitcoin chegou a valer R$ 3.000,00. No entanto, esse valor foi reduzindo gradativamente com o aumento da oferta.
“Lá no exterior, a procura está muito mais acelerada. Muitos ainda têm medo de golpe, principalmente depois do que aconteceu no início do ano, quando o Mercado Bitcoin e a BitcoinRain foram hackeados, o que originou no sumiço de todos os bitcoins de ambas as redes. Isso acaba afastando o público”, destacou André Horta, diretor executivo da maior empresa de bitcoin do país, a BitcoinToYou.
Ainda de acordo com André, muitas pessoas já passaram a adquirir a criptomoeda, e até mesmo a ganhar dinheiro investindo no sistema. “Elas entram em sites como o nosso, que funciona tanto como um 'mercado de ações', quanto um intermediador para os processos de negociação. “Funciona da seguinte forma: o vendedor coloca o preço pelo bitcoin e o comprador procura o melhor valor para ele e efetua a compra. Lá, ele compra, envia a moeda para sua 'carteira' virtual. Se o cliente quiser revender, ficar com o dinheiro digital ou até mesmo trocar por reais, solicitando depósito bancário, fica a critério dele”, explicou, ressaltando que o sistema é “tão prático quanto enviar um e-mail”.
“Com esse dinheiro, você pode comprar um ótimo produto em sites estrangeiros, reservar um hotel em uma das maiores agências de viagem online do mundo, ou até mesmo enviá-lo para um amigo do outro lado do mundo. É prático e hoje está muito mais seguro”, analisou André, frisando que o aval do governo, mesmo que temido, ainda é muito esperado. “Creio que o bitcoin só crescerá no Brasil a partir do momento em que o Governo regulamentar o sistema. Já fizeram isso na Alemanha, nos Estados Unidos e na Inglaterra, onde o uso é muito grande. No entanto, nós, do ramo, tememos que essa regulamentação seja restritiva, tirando as startups do segmento, e liberando a moeda para bancos e casas de câmbio”, concluiu.
Segundo o professor de finanças do Ibmec/RJ, Nelson de Sousa, já existem vários estudos acadêmicos sobre o tema, inclusive e do governo. “Eles estão estudando o assunto e mostrado preocupação, em especial com os efeitos tributários (perda de receita), impacto na economia e controle de fluxos de capitais. A Receita Federal no Brasil pretende tributar os ganhos financeiros auferidos pelos contribuintes com essas operações, mas tem encontrado dificuldades para o controle”, analisou.
Texto por Yuri GerstnerFonte:
http://www.querodiscutiromeuestado.rj.gov.br/materia.php?publicacaoId=2534#.VEfDY8k8lMsForum Permanente de Desenvolvimento Estratégico do Estado - Quero Discutir meu Estado